domingo, 19 de junho de 2011
reinado das flores.
Pálida e fria, simples assim, falo da Rainha Copo-de-Leite. Sim, fria, muito fria, digo aspectos físicos, claro, pois quando falamos de sentimentos e emoções traduzia-se em um coração flamejante, e seus olhos transbordavam candura. Reinava soberana sobre todas as flores do jardim psicodélico da Alameda Alcântara, não era o mais bonito, mas com certeza era o mais notável, devido suas dezenas de cores e formas, muitas espécies residiam ali, diziam ser devido a rainha, era bondosa e permitia que todas as flores recebessem a mesma quantidade diária de água, sem distinção de ‘raça e clero’, a igualdade era respeitada ali. Mas o que faltava mesmo naquele reino era um Rei, sim um grande Rei capaz de iluminar a Rainha, fortalecer aquele povo, na verdade, a rainha já tinha escolhido alguém, mas era um alguém de carne e osso, de outro reino, um jardineiro fiel que fazia do seu trabalho matinal regar as flores do jardim, como também adubar as jovens e podar as mais velhas. Ele trabalhava sem nada em troca, vez ou outra levava uma Hortência ou Orquídea, dizia ser para sua filha mais nova, pois esta gostava de enfeitar a sala de visitas, uma vez ela lhe pediu rosas vermelhas rubro, mas o jardineiro se espetou todo nos espinhos e não conseguiu levar um botão sequer, as rosas são muito violentas quando querem, lindas, mas perigosas, já dizia a Rainha Branca.
A Rainha sofria calada, mas não por amar um ser de outro reino, carne e osso já lhes disse, sofria por uma promessa feita no verão passado, foi em um dia chuvoso de tempestade, em que ventos fortes derrubavam as flores mais altas e as mais baixas eram esmagadas, pisoteadas, um caos tremendo, mas o Jacarandá, árvore grande e imponente que cresceu solitário na calçada em frente e cuja a casca era dura como rocha ofereceu seus galhos e folhas como proteção em troca de um casamento, mas não um casamento qualquer, petúnias, alfazemas e acácias não lhe interessavam, queria a Rainha Copo-de-Leite, ela como qualquer majestade disposta a se sacrificar para salvar seu povo não hesitou em aceitar a proposta sórdida.
Noivaram perante todas as flores e gramíneas do jardim, poucas árvores compareceram ao evento, pois o jacarandá não possuía muitos amigos, era notável a insatisfação da rainha e estava mais pálida que de costume, mas cumpriu sua palavra e casou-se com o jacarandá. Por algum motivo desconhecido o jardineiro não retornou mais ao jardim, e passado três meses a Rainha Branca faleceu, morreu de sede, sua vida não mais regada por mãos bondosas, não resistiu e desde então essa foi minha última notícia sobre aquele reino, aliás, ouvi rumores que uma Rainha Rosa assumiu a coroa, rumores...
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ao sair, apague as luzes.