sábado, 5 de março de 2011

um banquinho, dois sonhos.


Lá estava ela sentada no banquinho amarelo da pracinha em frente à padaria onde ele costumava comprar sonhos todas as tardes, ela repetia esse ritual sempre que conseguia burlar as aulas de matemática que tinha nas tardes de quinta-feira, o fazia desde o começo de dezembro quando o viu pela primeira vez, se esbarraram enquanto viravam a esquina do beco delgado que se instalava em meio às ruas largas da avenida principal, ela abaixou-se envergonhada para pegar o saquinho de sonhos que derrubara, afinal foi ela que apressada causara o incidente, tinha pressa porque havia prometido um favor a sua mãe, favor este que de fato não se lembrava ao certo, mas que havia prometido chegar mais cedo para realizar; ele a olhou atentamente enquanto ela em um ato singelo abaixou-se para ajudá-lo, seus cabelos negros e ondulados lhe cobriam o rosto, ela apressava-se a pedir desculpas, perdeu a fala ao sentir se atraída por aqueles olhos castanhos que ele tanto se orgulhava em ostentar, ele segurou-a pela cintura, não sabia o porquê de tal ato, mas era a vontade que sentia naquele momento, o silêncio não deixou que nomes fossem ditos, vergonha talvez.

Ela não era vista no banquinho amarelo, ele sempre distraído com fones de ouvido não reparava que do outro lado da rua ela o contemplava com anseios e vontades. Ao vê-lo ali tão próximo e ao mesmo tempo tão distante ela respirava fundo em pequenos intervalos, enchia os pulmões uma, duas, três, quatro vezes, tempo suficiente para que sonhos fossem comprados e ela o perdesse de vista enquanto ele caminhava pela rua larga rumo a sua casa.

Chovia quando ele avistou uma garota com as roupas molhadas sentada em um banco amarelo da pracinha, não conseguia ver o rosto, os óculos foram quebrados na noite anterior, ficou intrigado por ela estar ali imóvel enquanto um mar de água doce caia do céu, lavava as calçadas, os corações. Ele aproximou-se dela, ofereceu-lhe um lugarzinho embaixo do guarda-chuva xadrez azul comprado naquela manhã, ela sorriu com os ohos, ele a reconheceu, disse que a tinha procurado pela cidade inteira, que cruzava os dedos todas as vezes que passava por uma esquina, ela disse que o estava esperando no mesmo lugar desde então, no mesmo banco, no mesmo olhar.

Dois sonhos foram mastigados cuidadosamente naquela tarde, pedidos foram feitos.

2 comentários:

ao sair, apague as luzes.